quinta-feira, 1 de julho de 2010

historia para normal real

Estava com um chapéu que lhe cobria os olhos. Muito parecido com os de pescadores. Eu enxergava apenas seu queixo, sua boca e seu nariz. Cabelos que lembravam palhas. Ele usava um tipo de capa de chuva feita de tecido, calças de borracha e galochas. Ele era uma mistura da cor preta e verde fosforescente. Quando o fitei ele disse:- Vire para o outro lado e durma! Não é hora de criança ficar acordada! Senão...Quando ele disse o “senão”, meus olhos começaram a se fechar forçadamente. Algo estava sugando minhas energias e dando lugar a um cansaço muito incômodo. Meus pés e minhas mãos começaram a ficar dormentes, e por fim meu rosto. Senti como se ele houvesse tapado minha face apenas com a palma da mão.Tudo escureceu. Eu havia morrido. Já com 08 anos completados, não passaria a infância sem ter medos. Essa fase me atormentou bastante pois lembro nitidamente de tudo o que vi e todo o processo de tormento.Tudo começou em uma noite de domingo. Dormia com o Douglas no mesmo quarto em camas separadas. O quarto era razoavelmente grande e havia uma penteadeira com um espelho enorme. Eu dormia na cama de frente ao espelho e o Douglas na cama da parede ao lado. Havia acabado o Domingão do Faustão e esse era o horário que todos íamos deitar. Nunca tivemos o costume de ser postos na cama, apenas deitávamos e meu pai apagava a luz.Fechei os olhos aguardando o sono que já estava para chegar, quando escuto um grito desesperado de uma mulher vindo lá da rua. O grito foi apavorante, pois parecia que a mulher estava levando facadas. Como não ouvi barulho dos meus pais levantando da cama, eu levantei e me espreitei entre a cortina da janela do próprio quarto e bisbilhotei a rua. Quando olhei para fora, senti o meu corpo esfriar. Um vulto claro adentrou tão rápido a janela e eu o senti entrando dentro de minha cabeça, bem entre os olhos. Minhas mãos se contorceram para trás e iam me arrastando como a correnteza de um mar. Eu estava sendo puxado para trás como um boneco. Era como se um fio houvesse entrado em minha cabeça e saído pelas costas, amarrando minha mão e se apossando de meu corpo. Eu não conseguia gritar, falar ou chorar . Eu morri durante uns trinta minutos. Fiquei indo para frente e para trás. Manipulado por um ser sobrenatural de origem desconhecida. De repente, ele me jogou para frente do espelho e sussurrou uma frase em uma linguagem estranha:
- Farra Sarramá!
Foi algo que entendi, me soou claramente como:- Aqui te deixo, mas aqui estarei.Senti minha cabeça se esvaziando como um balão. Olhei para o espelho e vi uma moça de uns 35 anos rindo como um demônio, com um vestido preto, pele amarelada, sem olhos, boca vermelha, cabelos loiros espetados para cima, magra e apontando para minha porta com os braços cruzados. Suando frio, sem entender se estava acordado ou não, direcionei meus olhos para a porta. Para meu tormento e pavor, surgiu ali a imagem da mulher, em tamanho real. Ela dançava em frente a minha porta e sussurrava em seu linguajar estranho, agora cantando, a frase “Você não vai sair daqui.” Eu não conseguia gritar, não conseguia chamar pelo Douglas e nem pelos meus pais. Quando me direcionei para a cama, ela veio novamente. Fui jogado contra a parede, batendo as costas e perdendo o fôlego. Senti falta de ar, quando abri os olhos, senti as mãos frias daquele ser na minha garganta. Fitei aquele buraco sem olhos. Fui levantado. Sentia que meus pés não estavam tocando o chão. Estava com o rosto tão gelado que sentia rastros de lágrimas caindo como granizo na minha face. Ela me fitou e sussurrou dessa vez em português:- Reze!Senti meu corpo imóvel girando 360º graus sem parar para trás, caindo em direção a um buraco. Como se estivessem me jogando amarrado. Senti minha cabeça bater em algo fofo. Senti que estava na minha cama. Acordei assustado e me questionando se aquilo foi um pesadelo. Sem delongas, corri no escuro em direção a porta para me refugiar no quarto de meus pais com medo que aquilo fosse mais que um pesadelo. Ao fitar a porta, novamente vi aquele ser terrível ali, mas dessa vez estampado. Sem movimento e apenas com o rosto desenhado ali, olhando pra cima com uma expressão pensativa e ao mesmo tempo maligna. Não tive coragem de abrir a porta. Tremendo, fui me deitar com o Douglas.
Acordei traumatizado no outro dia. Estava com uma dúvida na cabeça se a experiência pela qual havia passado realmente havia acontecido ou se foi tudo um terrível pesadelo. O Douglas já havia levantado e havia estranhado eu estar na mesma cama que ele, já que isso nunca antes havia acontecido.Minha mãe me questionou o porquê do ato e eu mencionei sobre o ocorrido. Minha mãe pediu para esquecer, que aquilo foi apenas um pesadelo.Eu comecei a ficar muito fechado essa época. Aquela dúvida martelava meu cérebro. As noites passariam a ser traumatizantes para mim. Quando eu brincava,comia, tomava banho ou estava sozinho, me vinha à imagem daquela mulher na cabeça pensando o que ela seria e do que seria capaz. Não saia mais de mim aquilo.Chegou à noite. Fomos nos deitar e meu pai foi apagar a luz. Em questão de minutos, aquela mulher retornou para a porta, mas dessa vez estampada em três feições diferentes. Um rosto menor a esquerda superior, ela sentada como se estivesse lendo um livro. Logo a direita só dava para ver um pedaço do rosto, pois o outro estava coberto pelo cabelo, e o maior e logo abaixo, ela novamente me encarando, mas apenas os olhos se movimentavam, não havia som e nenhum movimento das outras partes. Já suando frio, virei para o outro lado na intenção de evitar ser encarado. Senti como se dois pés pisassem no meu abdômen e recostassem perto de minha pélvis. Tremendo, olhei para baixo e me deparei com algo pior do que aquela mulher. Parecia um mendigo e um duende ao mesmo tempo.

LOGO ESTAREI POSTANDO A 2ª PARTE

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